Exposição individual na galeria MCO Arte Contemporânea
De 20 de Junho a 22 de Julho, 2009
Para ler a crítica de Óscar Faria a esta exposição no Público/Ípsilon clique aqui
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A exposição “Abstract” que estará patente na galeria MCO a partir de 19 de Junho, apresenta uma série de pinturas a acrílico sobre tela, todas elas de formato panorâmico. O título da exposição “Abstract”, pretende jogar com o duplo sentindo que esta palavra pode ter na língua inglesa. Se por um lado, a ideia de “abstracto” no contexto da arte é importante para definir e identificar estas pinturas, por outro, a leitura de “abstract” como sumário, ou resumo de algo com mais desenvolvimento ou complexidade, é igualmente necessária para o conceito desta exposição.
Estes quadros, na sua aparência, estabelecem uma estreita afinidade com os parâmetros do formalismo abstracto americano dos anos 60, do mesmo modo que se podem estender a uma série de problemas de ordem económica e social, em particular do contexto português actual. As faixas de cor sólida que percorrem todas as paredes da galeria, partilham a sua autonomia enquanto formas (figuras) da pintura, com uma ténue sugestão de representação figurativa, uma espécie de significado subliminar. De certo modo, torna-se quase impossível não associar estes longos rectângulos horizontais, a uma paisagem urbana que faz parte do quotidiano do mais comum dos cidadãos portugueses. Esta instalação (e também cada peça em particular) tem também por isso um carácter de site-specific, uma vez que o reconhecimento dos vários níveis do trabalho pressupõe uma memória colectiva, uma familiaridade com certas formas e combinações de cores que, neste caso, marcam a sua presença nas fachadas de agências bancárias e nos mais comuns transportes públicos do território português.
Resumindo, o múltiplo sentido de “abstract” sublinha toda a ambivalência que define a génese deste trabalho. Apesar de uma forte ligação aos ícones da pintura abstracta formalista, neste caso particular às obras panorâmicas do americano Keneth Noland, aqui pretende-se contrariar o mito de uma abstracção totalmente autónoma e pura, alheada de todo um contexto exterior, indiferente a qualquer interpretação. Nestas obras, a abstracção não é sinónimo de destruição de toda a significação, estas formas pretendem-se prenhes de significados que se devem desdobrar infinitamente, sempre indissociáveis da subjectividade das interpretações, das experiências individuais. A instalação “Abstract” apresenta-nos um jogo de tensões entre autonomia e interdependência; estas pinturas não são objectos estáticos e contemplativos, pois dão privilégio a uma relação activa com o espaço e tempo, relação esta que estende ao exterior da galeria e à experiência do quotidiano, estão até abertas a possíveis narrativas.
Ao apropriar-se de um universo formal oriundo dos placards luminosos dos mais democráticos bancos portugueses ou do exterior de transportes públicos como o metro, o comboio e o autocarro; Abstract” age de modo subliminar como uma síntese de acções, deslocações, problemas financeiros pessoais ou crises económicas generalizadas; é uma abstracção sempre à mercê das mais diversas contingências.
João Marçal
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